PÁGINA DA NOTÍCIA

Neurose Obsessiva, Neurose Fóbica e Neurose Histérica na contemporaneidade

18/04/2024

 

Aqui estão alguns trechos da minha apresentação sobre "A neurose na clínica contemporânea”, em atividade cientifica promovida pela LAPSI - Liga Acadêmica de Psicanálise da UCS - na ultima terça, dia 16 de abril/24.

 

NEUROSE

A psicanálise foi inaugurada nos alicerces da histeria, quando Freud passou a escutar aqueles corpos que falavam através de suas conversões.

Ele descobriu a etiologia sexual das neuroses e o mecanismo que produz o sintoma neurótico: o Ego tenta atenuar a força das representações inconciliáveis através do recalcamento. Assim o representante ideativo da pulsão é recalcado no inconsciente e sua energia correspondente, o representante afetivo, é convertido em sintoma no corpo (Neurose Histérica) ou se liga a outras representações que constituirão os pensamento obsessivos (Neurose Obsessiva) ou é deslocado para um objeto no mundo externo (Neurose Fóbica).

 

 

 

NEUROSE NO CONTEMPORÂNEO

 

A neurose fóbica na contemporaneidade

A Neurose Fóbica na atualidade se apresenta com muita freqüência através da "fobia social”, caracterizada por sentimentos de inferioridade, de insuficiência e de vergonha. Esses sentimentos são decorrentes da severidade do superego e do ideal do ego, frente a impossibilidade de satisfação narcísica.

A crescente incidência da fobia social parece estar relacionada a mudanças econômicas, políticas e sociais, bem como as vantagens comerciais das indústrias farmacêuticas. 

 

A histeria na cena contemporânea

A Neurose Histérica atualmente é muito mais rara do que no final do século XIX. É difícil termos uma Ana O., uma Dora… em nossa clínica. Considerando que os discursos sofreram modificações desde Charcot e Freud até os dias atuais, os sintomas histéricos são evidentemente distintos daqueles relatados por eles e se manifestam de formas variadas.

As novas roupagens histéricas não alteram o sintoma de insatisfação que caracteriza a histeria, mas esses sintomas sofreram influências de novas exigências da nossa cultura contemporânea. Isso tem direta relação com os ideais sociais de cada época.

Assim, a histeria se manifesta atualmente por meio de doenças contemporâneas. Encontramos alguns rearranjos da histeria em enfermidades orgânicas e do culto ao corpo. Nisto pode-se incluir o padrão de beleza e sua influência na autoimagem, contribuindo para o desencadeamento de sintomas como a anorexia e a bulimia que se relacionam a identificação do sujeito com esses padrões de beleza idealizados.

Também podemos encontrar manifestações histéricas em sintomas como dores difusas, sonolência, tensões musculares localizadas, agitação nas pernas, tremores, entre outros.

 

 

 

Contemporaneidade e sintoma obsessivo

Como já referi acima, os sintomas estão em sintonia com sua época, e o momento contemporâneo tem produzido um mecanismo social semelhante ao modo do psiquismo da neurose obsessiva, potencializando a culpa e paralisando o desejo

Observa-se uma maior prevalência da neurose obsessiva na contemporaneidade, sustentada pelos dispositivos sociais. Estes funcionam como um estímulo à intensificação dos sintomas obsessivos, com maior nível de angústia, como se percebe nas redes sociais onde as imagens são postadas de forma quase compulsiva na constante busca por likes do Instagram. Também destaca-se a ansiedade por respostas imediatas no WhatsApp.

Freud ressaltou que nos casos de neurose obsessiva impera a onipotência atribuída aos pensamentos, sentimentos e desejos. Esta onipotência entra em conflito com os impedimentos, dúvidas e proibições que obstaculizam o desejo para o obsessivo.

Nossa sociedade atual instiga a super competência, a super eficiência, o super desempenho, a competitividade. O resultado dessa demanda social precisa ser postado nas redes sociais produzindo um desafio ao obsessivo que é levado a se aprimorar em busca da perfeição. Isto produz angústia no obsessivo diante dos imperativos que ordenam a ele uma habilidade e desempenho maior para que se sinta reconhecido.

 

Para finalizar, 

Sofremos uma transformação cultural, na qual passamos de uma cultura propensa à neurose para uma propensa à perversão.

E, lembrando Freud, nos "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905)  ele falou da “neurose como negativo da perversão" 

Hoje temos:

- menos neurose

- mais perversão

- mais não neurose 

- mais estados-limite 

Lacan, por sua vez, nos disse “Não é certo que a histeria ainda exista. Mas se há uma neurose que ainda existe é a neurose obsessiva” (1979).

 

 

Rosita Esteves

Psicanalista

 

Rua Moreira Cesar, 2821/23

(54) 99183 3344

 

2024/Abr

Compartilhe:

O QUE VOCÊ QUER BUSCAR?
QUER FALAR COMIGO?
 Chamar no Whats

#sigarositaestevesnasredessociais