A escuta da escuta: supervisão clínica
05/11/2023
A supervisão consiste na escuta da escuta, uma interlocução para o trabalho clínico, estabelecendo uma ponte entre a experiência clínica da psicanálise e seu estudo teórico.
A supervisão, formalmente, passou a fazer parte da formação psicanalítica por volta de 1920, através de Abraham, Eitingon e Simmel, que a introduziram no Instituto de Berlim.
A prática da supervisão é um dos pilares da formação do psicanalista, junto à análise pessoal e aos estudos teóricos da Psicanálise. Esse tripé contribui para a formação de uma identidade psicanalítica.
Ao famoso tripé acrescenta-se um quarto elemento: a instituição de formação, através do processo de convivência e inter-relação com os membros da mesma.
Freud relacionou a complexidade do trabalho do psicanalista utilizando a metáfora do jogo de xadrez e de suas regras, ao escrever um de seus artigos sobre a técnica psicanalítica, intitulado “Sobre o início do tratamento” (1913).
No jogo de xadrez apenas o início e o término de uma partida permitem uma descrição sistemática, ao contrário do que ocorre na fase intermediária, quando há uma variedade infinita de jogadas. Seria o estudo minucioso dos jogos travados pelos grandes mestres do xadrez que poderia contribuir para o conhecimento do desenrolar do jogo.
Assim também seria com a psicanálise: a abertura e o final da análise são mais claros e definidos do que seu transcurso pois, como no jogo de xadrez, os movimentos do inconsciente tomam seu rumo com uma “pluralidade inesgotável de possibilidades” (FREUD, 1913).
Pode-se relacionar a supervisão com esta metáfora na medida em que seria uma atividade na qual o psicanalista mais experiente escuta a escuta do colega para auxilia-lo nos desafios do percurso.
Esta é uma experiência que tenho vivido num Grupo de Supervisão coordenado pelo psicanalista Paulo Passos que se constitui como espaço de desenvolvimento da escuta psicanalítica e da transmissão da psicanálise.
Com todo o rigor da ética, discutimos casos clínicos imbricados em um movimento de criação e da escuta o inconsciente, permitindo revisitar conceitos fundamentais da teoria psicanalítica.
Referências
Balint M. On the Psychoanalytic Training System. The International Journal of Psychoanalysis, 1948; 29: l63173.
FREUD, S. O início do tratamento (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise I). In: Artigos sobre a técnica [1913-1916] - Obras Completas. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2019, Volume 10.
GARRAFA, T. C. O lugar da supervisão na formação do analista. In revista Percurso, n.36, São Paulo: Instituto Sedes Sapientiae, 2006.
Macedo, M. M. K., & Dockhorn, C. N. B. F. A supervisão em psicanálise: o fazer na clínica. In M. M. K. Macedo (Eds.). Fazer Psicologia: uma experiência em clínica-escola. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009.
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